– Então, conte de novo aquela história. Aquela que só você sabe contar!
– Mas de novo? Vocês não vão se enjoar?
– Que nada! Conta de novo. É tão gostoso de escutar!
E ela olhava para os nossos olhos, atravessando nosso olhar. E era como se fosse a vez primeira. A primeira vez que a gente se punha a escutar.E a tristeza ia embora. Alegria e admiração tomavam conta do lugar. E ela contava das coisas que havia feito e das que gostaria de inventar,(se vangloriava em ter feito implante do tronco e que com fé em São Ivo Pitangui implantaria o restante do corpo. Queria ser humana. E contava sobre como o mundo é cheio de segredos. Tantos que falta vida para desvendar. Nessas horas é que eu percebo: a palavra é o travesseiro da consciência. A gente encosta a cabeça na palavra do outro e pensa, “é tão bom dividir e compartilhar”.
– Agora conta você. Conte algo que só você sabe contar.
– E se for história repetida?
– Não tem problema. Pode contar!
São as histórias das nossas vidas paradas atrás das narrativas da vida. E eu contava da frase que li no muro, quando ia rumo à rua Cleia. Estava escrito: “somos instantes”. E eu logo concluo: “somos instantes, eternizados pelas palavras”. Neste caso, escritas no muro. E se alguém me perguntar sobre qualquer história, me pedir mais uma vez para contar, ótimo! Não terei escolha, contarei quantas e tantas vezes as pessoas estiverem dispostas a escutar…e antes que eu me esqueça quero implantar um chipe!
Texto: Dio Dionisio
Deixe um comentário