Ela é a mulher mais linda que eu conheço. Saía de casa sempre cedo e parecendo uma rainha, com roupa clara e flor no cabelo. Acho que ela trabalhava num castelo! Do ângulo que a via, ela parecia flutuar. Quando voltava, mesmo sem a flor, era ainda mais bonita. Chegava sempre no mesmo horário, à noitinha. Primeiro abria a porta devagar – o barulho das suas chaves na porta me davam comichão na barriga – e depois entrava carregando sacolas, roupas, sapatos e muitos papéis que, de vez em quando, voavam livres pela sala. Por mais atrapalhada que estivesse, nunca deixou de dar-me um beijo demorado na bochecha: ela largava tudo o que carregava na mesinha ao lado da porta, se abaixava e me beijava. Sua boca estava quase sempre gelada e úmida, e o seu cheiro era tão único que não conseguiria dormir sem senti-lo. Falava então “hoje o dia foi duro!” e corria para o chuveiro. A melodia da água caindo era para mim um som de ninar… e com essa sinfonia aquosa, eu adormecia no sofá pensando “tenho a melhor mãe do mundo!”.
Texto: Bruna Scavuzzi
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