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A moça era agarrada na saia da poesia. Paixão por versos, pinturas, filosofia e um olhar que mais parecia uma flor para alegrar corações amigos. Ela tinha também aquele sorriso que quando eu não encontrava, ficava procurando para fixá-lo em minhas retinas, para ver, através dele, o universo ao meu redor. Hoje, estou a procurar o riso singelo da moça contemplando sua fotografia, e só fico vendo a figura de uma linda moça alegre, porque seu olhar esboça a arte. E, mesmo vendo as pessoas tristes não me animo a acompanhar esse ritmo, porque vendo a moça e sua felicidade guardada já fico alegre. Alegria anunciada na minha intuição, na minha fé e agarrada na saia da poesia da moça.

Texto: Helena Peixoto

Foto: Ricardo Borges

Panos no chão. Sobe neurônio, desce neurônio. Escuto alguém na platéia. Sentado, sozinho o rapaz observa. 19h. Até as 21, tudo tem que estar pronto. Sinapse. Neurônios no lugar. O rapaz continua ali. Teste das caixinhas. Sobe caixinha, desce caixinha. Não funciona. O rapaz ainda sentado. 20h.

– Licença, a peça, não deveria estar começando agora?

– A peça é amanhã, não hoje.

– Amanhã? Foi a ansiedade.

Texto:  Renata Berenstein

Foto: Ricardo Borges

Ele acordou cedo, na verdade não se pode dizer que tenha dormido. Passou a noite dando voltas na cama. Fazia anos que não se viam e a simples idéia daquele encontro causava um redemoinho de borboletas em sua barriga.Tomou um banho de horas, como há muito não ousava.

Aproveitou a oportunidade para inaugurar seu velho-novo paletó que há muito estava esquecido no fundo do armário. Duvidou se iria de óculos, mas como era cegueta concluiu que seria mais adequado usá-los.

Com medo de chegar atrasado, chegou adiantado. Mas de pouco adiantou. Nas primeiras horas de sua infinita espera pode-se dizer que ainda estava ansioso. Após cinco horas de relógio, que essas são mais lentas, há de se convir, aceitou seu entrave. Foram horas, dias, semanas. O tempo já não tinha medida. Mas de uma coisa sempre esteve certo, não arredava o pé dali até que ela chegasse.

Texto: Sarah Corral

Foto: Ricardo Borges

Ela lembrou do momento em que conheceu o amor. Só que no dia seguinte, ele não estava mais lá, e não deixou um bilhete, não deu um telefonema. Simplesmente partiu, como um peixe. Há mar sem limites…

Texto: Helena Peixoto
Foto: Ricardo Borges

Rita – Olha! Uma estrela cadente!
Rhyana – Mas tá de dia Rita! Deve ser um balão.
Rachel – Eu não to vendo nada! Só um pombo!

Texto:Renata Berenstein
Foto:Ricardo Borges

FOTOCONTO#3

Dentro da caixa de madeira um mundo de sabores aguardava o próximo cliente. Quantas histórias cabiam naquela caixa? Era de perder a conta! Um mundo de lembranças perdido entre balas, pastilhas, chicletes e maços de cigarro. No contraste com a claridade da madeira havia um espelho com manchas e impressões digitais. Para quê? Para quem? A dona do baú mágico de aromas e sabores diversos me fez a revelação: “Tenho clientes que gostam de se olhar no acender do primeiro cigarro, cê acredita? Conheço até uma moça que adora se ver colocando uma dessas balas na boca. Mas há também aquele tipo que apenas se olha. De maneira simples. Pois é… Estes são os mais complicados. São os que eu menos entendo…”.

Texto: Gabriel Camões

Foto: Ricardo Borges

FOTOCONTO#2

Uma viagem que era para ser apenas uma viagem… Teve sua normalidade interrompida pela chegada de um homem. O coletivo estava parado num posto de gasolina para um procedimento de praxe e tudo transcorria bem até o momento em que o homem resolveu subir em um dos ônibus no qual não era passageiro. A sombra só permitia aos passageiros ver metade do seu rosto. Sacou algo do bolso, colocou sobre o rosto e começou a falar com todos. Alguns passageiros pareciam assustados. Outros pareciam aceitar com comiseração aquele insólito momento. Eram testemunhas do acaso. A tensão tomou conta do ambiente por alguns instantes. Aos poucos a verdade foi se revelando… Ao dar um passo a frente foi reconhecido pela grandeza vermelha do nariz que ostentava. Era um palhaço. Um palhaço daqueles verdadeiros. Pediu a presença de um voluntário para realizar o seu número, pedido que foi prontamente atendido por um rapaz de branco que estava sentado numa poltrona do corredor. Uma viagem que era para ser apenas uma viagem… Mas teve sua normalidade interrompida pela chegada de um nariz vermelho.

Texto: Gabriel Camões

Foto: Ricardo Borges

FOTOCONTO#1

Naquela tarde, até a chuva resolveu dar uma trégua e aderir ao protesto desencadeado naturalmente na porta de uma igreja no centro histórico. O baiano reclamava da falta de amor… O desespero fez os mais céticos pedirem a Deus mais uma dose de humanidade. Naquela tarde os joelhos das mulheres e dos homens nunca foram tão amigos do chão das ruas de Salvador… Sobrava gente, faltava amor. Faltava chão, sobrava dor.

Texto: Gabriel Camões

Foto: Ricardo Borges